Antigamente o tempo não se escoava, antes passava de mão em mão, como a Sagrada Família, de pai para filho e deste para o neto, sempre na mesma ampulheta de trabalhos na terra, de geadas para o lavrador se pôr a pau, de torreiras em Agosto a argamassar os regos secos, de romarias a horas como as badaladas das trindades. De modos que o tempo dos antigos era o mesmo dos novos e dos que ainda estavam para vir. Mas a rodas das estações electrificou-se e desatou a girar sem pausas nem esperas pelos mais atrasados. Nas águas dos ribeiros e no lavradio caíram químicos e plásticos, o grão foi enferrujando nas arcas e as giestas e estevas são mais que as mães por entre as fragas e os torrões. Aguilhoados pelo colorido falso do ecrã, os novos foram à vida para outras paragens e até os pinhos desertam do interior, enegrecidos, no bojo das camionetas, iludidos pelos fogos arribados na liberdade de Abril. Restam poucos, calvos e brancos.
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