Em princípio, para Hannah Arendt, como para Santo Agostinho, há uma expansividade, o desejo. «Estrutura fundamental do ente», o desejo é a forma de um apetite que instala o querente na solidão, expõe-no a todas as angústias e a todas as audácias, mas atraiçoa uma dinâmica irrecusável, a vontade de ser feliz. Felicidade, alegria, ou qualquer outro nome que se lhe chame, o objecto do desejo revela o fim último do ser criado: ser feliz. O principal objectivo de Hannah Arendt é tornar explícito aquilo que Santo Agostinho apenas diz implicitamente, ou seja, ela desmonta toda a linha de pensamento do autor e desce até às profundezas do seu pensar, para revelar o lado oculto do que está dito e, eventualmente, aquilo que também ficou por dizer. Para a realização da sua interpretação, Hannah Arendt dividiu o seu trabalho em três partes. A primeira é dedicada ao amor compreendido como desejo e às contradições a que esta definição do amor pode levar. A segunda, tenta compreender de que modo é que só se ama o próximo no amor a esse próximo, e, na terceira parte, o objectivo é entender de que forma é que o homem isolado de tudo o que tem ligação com o mundo - e encarado, única e exclusivamente, na sua relação face a Deus - ainda consegue interessar-se pelo próximo. Três partes que são as linhas centrais de um apaixonante ensaios de interpretação filosófica, onde se abordam e desenvolvem os três grandes aspectos presentes na problemática agostiniana do amor. Amor, desejo, solidão, felicidade, alegria, caridade, cobiça, fé, vida, morte, medo, amor ao próximo e amor a Deus são apenas alguns dos conceitos que se encontram nesta obra, com o único propósito de explicar o fim último de todo o ser humano: ser feliz.
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