10 de Maio, no poço de Aguenni, a trinta quilómetros de Tombuctu: última noite de verdadeiro deserto, aliás pouco deserto. Os pastores tiraram água, julgo eu, desde manhã até à noite; conjunto de vozes de bois, ovelhas e burros, ao qual só falta uma voz, a do pequeno bezerro que na véspera tinha caído no poço e que tinha morrido.E depois, a grande rota do norte, muito frequentada naquela estação de regresso da azalaï. Longos desfiles silenciosos de camelos que deslizam na noite, sob o luar. Espectáculo bastante solene, quase grandioso: aqueles incessantes vagões lançados em fila indiana, monstro sem fim, articulado, mecânico, evocam um animal colossal, por vezes único e outras múltiplo, uma espécie de escolopendra titânica com inúmeras patas, animada por um ritmo lento, mas decidido, infatigável, implacável, irresistível.Tendo cada um as suas especificidades, o deserto e o oceano apresentam-se-nos com características semelhantes: a imensidão, o facto de serem espaços que comandam o movimento perpétuo, a navegação, o nomadismo, a eterna fuga quotidiana.Segundo Théodore Monod nos diz em Os Navegantes do Deserto, passando do mar para o deserto, não estaria eu apenas a mudar de oceano? Quer este seja de água salgada, quer seja de areias e pedras, é sempre um oceano. E eis a razão pela qual, após termos vivido nos dois, descobrimos tantos pontos em comum entre a vida do marinheiro e a do sariano, um parentesco tão secreto e profundo.Em Os Navegantes do Deserto, Monod transporta-nos, uma vez mais, para o seu tão querido Sara e para os constantes percursos das caravanas no deserto sariano.
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