José Prata - Os coxos dançam sozinhos

(...)"Estou, estou sim", berro para o bocal,segundos antes de perceber que afinal é a campainha, definitivamente histérica. Alguém vai morrer hoje, sinto-o na pele, ninguém me acorda a esta hora. Visto o roupão à pressa, imponho-me umas cuecas para dominar o inchaço matinal (ai a Florbela) e vou para a varanda com o revólver em punho: "Quem é" pergunto lá para baixo. Não está ninguém, como é evidente, a campainha é cá em cima, está tudo a dormir na minha cabeça. Seja quem for a besta, já está à minha porta. Confiro as balas, rezo para que seja uma velhinha Jeová (ou duas, elas andam sempre aos pares), ensaio ao espelho o rictus Clint Eastwoodiano: "Make my day". Abro a porta de rompante, revólver a postos(...)