Teófilo Rego capta a independência singular de um sítio como a Ribeira e cobre a triste severidade dos gestos em instantes narrativos. Estas imagens poéticas convocam-nos para ouvir o sotaque duro e o gume roufenho dos gritos das vendedeiras. Permitem-nos sentir os aromas seja do mar na banca do peixe alinhado, seja das castanhas fumegantes e datadas pelo jornal que lhes serve de regaço, seja ainda da tigela do caldo do velho solitário. Transmitem-nos o calafrio de aventura de crianças a quem basta um caixote, a vertigem da escada e o gosto do risco para a coragem de brincar em traquina e fraterna cumplicidade. Abra este álbum e folheie os recantos do casario em agitada ascensão enraizada no rio. Vá até à Sé, ao Paço e Seminário, constituídos cimo divino ao erguer soluçado das paredes do Barredo. Surpreenda o barco de vela sacudida, a conceder alegria ao cinzento indeciso da urbe. Perceba o estranho de ser conduzido em vielas arruinadas pelo olhar cruzado das crianças. Mesmo o perfil agreste das casas é humanizado pelo circular de passos, por roupa ao vento, janelas abertas. Paramos a apreciar a procissão de ida e volta das mulheres com gigas transbordantes de bacalhau bem como a luta permanente das que atravessam o rio para escoar os seus produtos. Detemo-nos a seguir o dedo estendido do miúdo, na vontade de ouvir o que transmite ao companheiro. Apetece-nos pegar ao colo na menina para que coloque a vela na memória das “alminhas da ponte”. Este conjunto fotográfico canta a luz do rio a recortar vidas e a brilhar no granito antigo, em registo autêntico do burgo portucalense.
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