Proibido durante cerca de 30 anos nos Estados Unidos e no Reino Unido, Trópico de Câncer foi publicado originalmente em 1934. Eleito um clássico de literatura erótica desconstruiu tabus e desmistificou convenções no seu pouco apologético caminho em busca do desejo. Muitas vezes considerado pornográfico e obsceno, Trópico de Câncer evidencia uma sexualidade despojada, longe de amarras e preconceitos, sendo auto-designado pelo escritor como «um insulto prolongado, um escarro no rosto da Arte». Não somente a Arte se pode ter sentido beliscada como a generalidade dos homens do seu tempo, presos às regras ditadas pela sociedade e que viam em Trópico de Câncer um desafiar dos valores impostos e aceites pela sociedade. A linguagem sem freio, os temas invariavelmente de cama e o retrato das personagens pouco ortodoxo, muitas vezes ridicularizadas por uma crítica contundente e sem moral, projectaram Miller como alguém à frente do seu tempo, porventura um pouco desajustado, facto esse que o levou a viver em Paris, ex-libris das capitais, que considerava um local onde se mesclam as cidades da Europa e da América Central, e onde o escritor vivia sem recursos ou dinheiro. Miller auto-designava-se um artista que se deixava conduzir à mercê das contrariedades e das alegrias da vida. A primeira impressão de Trópico de Câncer foi aliás financiada por Anaïs Nin, sua amante, que acreditava nos seus desígnios. Narrado na primeira pessoa, o livro relata ficticiamente as aventuras de Miller entre prostitutas, proxenetas, pintores sem dinheiro e escritores do submundo parisiense. Controverso e muito peculiar, Henry Miller ergue um hino ao mundo da sexualidade e da liberdade nas suas formas extremas e garante incondicionalmente um lugar no panteão dos maiores escritores mundiais do século XX.
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