O presente livro, busca investigar os usos e as modulações da noção de vulnerabilidade na obra da filósofa norte-americana Judith Butler. Embora Butler seja mais reconhecida por outro conceito, a performatividade, argumentamos que vulnerabilidade é uma outra chave de leitura possível de seus trabalhos. A autora, durante as décadas de 1980 e 90, problematizou os temas de sexo, gênero e materialidade corpórea dentro do pensamento feminista. Butler apontava a falência da política identitária das lutas feministas e sugeriu uma outra forma de compreender o gênero, a partir do que chamou de performatividade, solapando a divisão metafísica sexo/gênero. Colocando-se contra qualquer doutrina que sustente a materialidade corpórea como uma mera “superfície de inscrição”, para Butler é preciso tematizar a responsividade do corpo, situando-a na órbita de uma agência politicamente necessária. Tal intento levou a autora a teorizar a vulnerabilidade do sujeito enquanto categoria linguística, isto é, a abertura do sujeito aos regimes normativos que, paradoxalmente, permitem sua agência. Após os atentados de 11 de setembro, Butler volta a investigar a vulnerabilidade, mas em termos sensivelmente diferentes. A “invulnerabilidade” projetada pelos Estados Unidos leva a filósofa à consideração da importância da vulnerabilidade do outro para repensar as categorias políticas, os regimes éticos e nossa interdependência necessária. Nesse sentido, pensar em questões de luto e reconhecimento exemplificam, para a filósofa, a forma como determinadas vidas podem estar mais expostas ao perigo, isto é, mais vulnerabilizadas, abrindo um caminho possível para reabilitar uma crítica da violência. Repensar a vulnerabilidade em termos de ética demanda reconhecer a precariedade da vida, sua característica de dependência fundamental e de exposição ao perigo. Isso leva a autora a questionar o modo como a ontologia considera o corpo, colocando-o como unidade discreta ou superfície de inscrição. Para Butler, é preciso de uma ontologia corpórea que considere essa dimensão de relacionalidade do corpo. Por último, a vulnerabilidade, para a filósofa, não se confunde com uma posição de passividade ou de exclusão: ao contrário, vulnerabilidade implica em resistência na medida em que corpos, ao exibirem essa vulnerabilidade, encenam um enfrentamento aos poderes instituídos, reconfigurando a gramática do reconhecimento. O intuito deste livro é oferecer aos leitores de Butler outros modos de se apropriar de sua obra, explorando os meandros de um pensamento comprometido com as urgentes tarefas do tempo presente.
This product has run out of stock. You may send us an inquiry about it.
This product is currently unavailable. You may send us an inquiry about it.