Há, de imediato, algo de excessivo na biografia deste português, que, com o decorrer dos anos, ameaça tornar-se um dos mais importantes poetas do século XX: algo de demasiado excessivo para não criar suspeitas ou melhor, alarmar quem se lhe ponha no rasto. É um excesso por defeito; é a total ausência de indícios ou, se se preferir, a evidência erigida em paradigma, o álibi perfeito: algo que nos faz pensar no disfarce na ostentação da carta roubada de Poe". Os cigarros de Álvaro de Campos, uma fotografia e uma dedicatória, o "bilhete de identidade" do Menino Jesus de Alberto Caeiro, uma charada de que teria gostado A. A. Crosse, o "código" das Cartas de Amor: indícios, pistas, aspectos pouco explorados do universo de Fernando Pessoa são o fio condutor de Pessoana Mínima. Mas muitas vezes é exactamente através de indícios mínimos que se consegue penetrar nos grandes acontecimentos históricos ou no labirinto das grandes figuras literárias. Após um retrato de amplo fôlego da figura pessoana, estes ensaios convidam-nos a deter o olhar sobre as tesselas de um grande mosaico.
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