Do mesmo autor de Admirável mundo novo, um dos maiores clássicos da literatura do século XX, este Contraponto surpreenderá o leitor que espera outra ficção científica, ou um mundo tecnologicamente distante do nosso. Entretanto, confirmará vários dos elementos que estão em Admirável, e que foram tão caros a Aldous Huxley: o desencontro entre as pessoas, a frieza nas relações, a dificuldade de expressão, e o mundo avassalador que incita os homens, e os afastam. Afora o cenário árido dos sentimentos, sempre a mesma esperança de Huxley, um tanto melancólica, de que o as pessoas, finalmente, se encontrem. Publicado em 1930 e presente em várias listas dos Cem melhores romances do século XX, o livro é um retrato da sociedade decadente, que passa a forçadamente rever seus valores quando a aristocracia e o dinheiro “antigo” já não mais sustentam a imagem de uma sociedade ideal. Contraponto é um mosaico de personagens, agrupados em núcleos, que vão de uma aristocracia decadente a ricos emergentes na sociedade inglesa do início do século XX. E, neste cenário, abre-se todo espaço para que Huxley, a partir das relações entre as personagens, teça como que um grande ensaio sobre os valores morais e éticos, a ciência, a religião, a arte. Cada um desses elementos é personificado por uma ou mais personagens, e como numa sinfonia, é possível ir discernindo cada uma das pequenas melodias que a compõem. É dessa maneira que Contraponto torna-se um delicioso, ainda que melancólico, retrato de nossa época – sim, ainda de nossa época. Melancólico porque há a guerra, a hipocrisia, a mesquinharia e o onipresente dinheiro regendo tudo. Mas delicioso porque a figura da mulher, exemplarmente pintada em Lucy, surge inteligente, independente e emancipada. E o grotesco da sociedade marca o tempo da sinfonia e, se é triste, não deixa de ser um primor da criação de Huxley.
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