«Luis Maffei afirma: o mundo existe. O poema começa já quando uma forma foi encontrada; não há nunca, pois, matéria simples, que não poderia ser dita por palavras. Há, logo, o acidente, a figura, a coisa de se estar vivo, que é existência mas não náusea, caos mas também perspectiva: “Assim: só o pequeno / barulho da cidade, longe / como se livre eu estivesse, / as gatas e / eu.”. Nunca a pura abstracção, mas imediatamente a cidade, o subúrbio, os animais, os números; e depois, só depois, a interrogação que faz tremer os contornos dessas formas. Leitor atentíssimo de Camões, Luis Maffei ouve também atentamente a lição de Herberto Helder: sim, “Transforma-se o amador na cousa amada / Por virtude do muito imaginar”, mas também: “O amador entra / por todas as janelas abertas. Ele bate, bate, bate. / O amador é um martelo que esmaga. / Que transforma a coisa amada.” (Helder 1961: 13-14). A matéria busca a forma? Mas é a matéria que martela a matéria. Outro modo de se assemelhar, com paixão, iconoclastia. Pois a poesia de Luis Maffei é uma poesia de amor, e o amor é busca infrene da matéria. (…)»Com a Esquerda Mão – posfácio de Pedro Eiras a Telefunken
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