Dos múltiplos talentos de Leonardo da Vinci, que abrangeram variados ramos das artes e das sapiências do seu tempo, o último a ser conhecido foi precisamente o de escritor. E por uma razão que quase faz pensar numa partida pregada pelo truculento humor de Leonardo à posteridade: quando após a sua morte foram examinados os seus inúmeros apontamentos, que ele ciosamente guardava de olhos curiosos, viu-se que não passavam de folhas e folhas manuscritas em caracteres completamente ilegíveis. E assim, durante longos e longos decénios se pensou que Leonardo inventara uma escrita só dele perceptível, para que não lhe roubassem os seus segredos os seus concorrentes, segundo uns, e na opinião de outros para não caírem nas mãos da Inquisição que certamente o faria passar maus bocados. E só tardiamente, vendo ao espelho essa escrita indecifrável, se descobriu que ele afinal escrevia da direita para a esquerda porque, como já era público e notório, era esquerdino.Se o Bestiário denota a única tentativa de elaborar um livro complementar, os restantes textos remontam igualmente ao período da sua vida na corte de Ludovico Sforza em Milão, de 1482 a 1499, e revelam-nos outra faceta sua que tem sido descurada: a de homem de corte. Precisamente as fábulas, facécias e profecias foram produções destinadas a entreter os cortesãos.
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