Eis o primeiro dos meus livros — certamente o único — que você não terá lido antes de ser impresso. É-lhe inteiramente dedicado e em nada lhe interessa. Quando éramos novos e que, no fim de uma discussão exaltada, um de nós triunfava com brio, dizia ao outro: “Você está na sua caixinha!”. Você está na sua caixinha; não sairá dela e eu não irei lá ter consigo: mesmo que me enterrem ao seu lado, das suas cinzas aos meus restos não haverá qualquer passagem. Este você de que me sirvo é um logro, um artifício retórico. Ninguém o ouve; não estou a falar com ninguém. Na verdade é aos amigos de Sartre que me dirijo. Àqueles que desejam conhecer melhor os seus últimos anos. Contei-os, tal como os vivi. Falei um pouco de mim, porque a testemunha faz parte do seu testemunho, mas fi-lo o menos possível. Primeiro, porque não é o meu tema; e, depois, como comentei, em resposta a uns amigos que me perguntavam como é que eu estava a aguentar: “É uma coisa que não se pode dizer, que não se pode escrever , que não se pode pensar; é uma coisa que se vive e é tudo”. Este relato baseia-se unicamente no diário que escrevi durante estes dez anos. E, também, nos numerosos testemunhos que recolhi. Obrigada a todos aqueles que, através dos seus escritos ou de viva voz, me ajudaram a reconstituir o fim de Sartre.
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