De um encontro casual resultará o casamento daqueles que ficarão sempre estranhos. "Ela" ignorava, numa total inocência, que essa união viria a ser a sua tragédia, pois representaria "a aceitação patética da vida num meio alimentado apenas pela convenção". "Ele" vive excluído do sonho, "mais que tudo o dinheiro atrai-o no íntimo", "dinheiro para guardar, dinheiro para o sentir na carteira e contar as notas de vez em quando". "Ela", por seu lado, dormirá sem sonhar, na solidão do quarto de casal onde recebe as suas visitas de quando em quando.Ao contrário de "Ele", incapaz de chegar mais cedo a casa ou de lhe comprar um presente, "Este" gostaria de a ver diariamente, de saber o que "Ela" pensa, de ter pequenas conversas de amor. Ama-a desde que se conhece, mas nunca se conseguiu declarar, vivendo na solidão de a ver com "Ele". "Este" teve uma amante, "Aquela", a que sempre ambicionou fazer um bom casamento, que lhe permitisse ir às modistas parisienses e ter um carro, mas de quem nunca gostou.Caranguejo, escrito do fim para o princípio e sem numeração de páginas, foi editado em 1954, sendo considerado o primeiro livro ficcional de Ruben A.. É um texto único em que, ao andarmos para trás, traçamos o percurso destas personagens sem nome.
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