Ela foi o meu primeiro beijo. O meu primeiro Amor. Ela era a pequena menina dos fósforos que conseguia ver o futuro na chama de uma vela. Uma fugitiva que me ensinou mais sobre a vida que qualquer pessoa antes ou depois. E quando partiu a minha inocência partiu com ela. Agora que começo a escrever, uma parte de mim sente que estou a acordar algo que era melhor que permanecesse morto e enterrado ou, pelo menos, enterrado. Podemos enterrar o passado mas ele nunca morre realmente. A experiência daquele Inverno cresceu em mim como hera na parece de uma casa, crescendo até ao ponto de fazer rachar tijolo e cal. Rezo para poder ainda contar a história como deve ser. A minha memória, como a minha vista, estão a desvanecer-se com a idade e já lá vão bem mais de 50 anos. Ainda assim há coisas que ficam mais claras com o passar do tempo. Pelo menos disto tenho a certeza: naqueles tempos houve demasiadas coisas mantidas em segredo. Coisas que nunca deveriam ter sido escondidas e outras que nunca deveriam ter sido reveladas.
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