Agostinho da Silva, de palavra esperançosa e olhos brilhantes de futuro, a todos lembrava que o fim do Império fora necessário para que um novo Portugal emergisse - o Portugal criador da Lusofonia, modelo de rede histórico-cultural a criar, alicerçado no espírito da língua comum: o Portugal do Futuro, que daria verdadeiro sentido ao quase incompreensível calvário de amarguras do passado e ao vazio desejoso do presente.Um dos mais desconcertante pensadores portugueses do século XX, Agostinho da Silva desenha uma filosofia nova, de carácter providencialista, que ressuscita, por um lado, antigas teorias da cultura portuguesa (como a ilha do Paraíso de São Brandão, a Idade do Espírito Santo da rainha Santa Isabel, a imagem camoniana da Ilha dos Amores, o Quinto Império e outras) e, por outro, constitui-se como momento mediador e aglutinador dos novos autores e das novas teorias providencialistas do final do século XX: Dalila Pereira da Costa, António Quadros, António Telmo e Manuel J. Gandra.Paradoxalmente, ao mesmo tempo que defende, com elevado fervor religioso, teses de vincado patriotismo e espiritualismo, Agostinho da Silva defende igualmente teses sociais conducentes a uma sociedade comunitarista e igualitarista, centrada no enigmático complexo civilizacional futuro do não-Estado, não-propriedade, não-casamento, não-escola e não-trabalho, cujo fim último, individual e colectivo, se esgotaria na existência santa de cada homem e na "vida plena" do todo social.
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