Laura Olinda Alves Costa (Porto, 1910-1993) será, na sua juventude, amiga e parceira de artistas emergentes e frequentará as tertúlias e ousadias vanguardistas do seu tempo, negando os academismos do _establishment_ artístico do Porto. No fecho dos anos 20 e durante a década seguinte, encontramos o melhor da sua obra ilustrada, na ficção para crianças e em manuais escolares, em contramão com o academismo pictórico e etnográfico reinante.As suas temáticas prediletas, crianças e costumes tradicionais, e a abundância de ilustrações ligadas ao culto católico, parecem condená-la à condição de propagandista do Estado Novo. Mas a sensualidade do seu traço diverge do decorativismo estilizado dos ilustradores estimados pela _Política do Espírito_ de António Ferro e revela uma forte imagem sexualizada que o puritano Estado Novo não pode tolerar.O registo descritivo a traço fino, sem sombra e volume, torna-se imagem de marca e gravará impressão duradoura na memória de várias gerações, sobretudo a partir da Editorial Infantil Majora, em jogos de mesa, postais para colorir, coleções de livros, e d’O Primeiro de janeiro com as primeiras páginas dedicadas ao Natal e São João. O traje tradicional português contamina toda a sua obra gráfica. A representação do mundo rural português, sempre equívoca na história das artes visuais portuguesas tem em Laura um desígnio alternativo.Laura tece um inventário de artes e costumes, cores e matérias, que tem em vista a sua fixação, preservação e capacidade de replicação oficinal.Laura Costa, a Bela Adormecida que não soube, ou não quis, acompanhar o frenesim das vanguardas estéticas a partir dos seus tempos de estudante, tem na história da ilustração portuguesa um percurso singular, repleto de mistérios e equívocos. Construirá um mundo gráfico só seu, uma torre de marfim onde se encerrará até ao fim dos seus dias.
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