Uma bela e sombria tragédia de John Ford — mundo de valores transtornados, com a insolente reivindicação de um incesto indiferente aos códigos sociais e a uma moralidade anulada pela crise espiritual que atingia o seu auge nesse princípio do século XVII britânico.O dramaturgo John Ford socorreu-se da autoria partilhada. Em 1624 associou-se a Thomas Dekker e William Rowley para escrever The Witch of Edmonton; nesse mesmo ano, e só com Thomas Dekker, também escreveu The Sun’s Darling; e entre as suas seis peças perdidas houve mais duas partilhadas com Dekker, e uma com William Rowley e John Webster.Má Sorte que Ela Fosse Puta e The Lover’s Melancholy, ambas de 1626, parecem ter sido as suas primeiras peças de autoria solitária; a revelarem-no com uma diferença violadora das regras estabelecidas por Shakespeare e os seus contemporâneos; a despojar, a evitar metáforas e a dar preferência à fala directa; a substituir a serenidade isabelina pelas agressividades da sátira e do cinismo. John Ford não deu à sua posteridade esse prazer da citação, essa colecção de frases e expressões que as peças de Shakespeare emprestam com abundância às exibições da cultura; sonhou e escreveu textos para um teatro que saltou sobre as formas que cumpriam a tradição, com personagens que evitavam a ênfase e a requintada elaboração metafórica para reproduzir o reconhecível discurso dos homens do seu tempo.Má Sorte… tem no seu centro Annabella, que Antonin Artaud considerou «a imagem do perigo absoluto».
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