Depois da Revolução de 25 de Abril de 1974, gerou-se em Portugal um clima de ódio contra a figura histórica e humana de Oliveira Salazar. Não procuro negar a legitimidade dos motivos de quantos nutrem aquele sentimento. Decerto terão para tanto razões pessoais. É perfeitamente possível, aliás, formular reservas a muitos aspectos da obra de Salazar, e a traços da sua personalidade; e a quem possuir documentos que o permitam, e que eu desconheço, seria mesmo lícito condenar em bloco aquela obra e aquela personalidade.|Mas o ódio é mau conselheiro, e a paixão política parece ser, dentre todas as paixões, a que mais cega os homens. No plano histórico, se são de arredar o favor e o encómio, também são de evitar tanto o ódio como a paixão. Impõe-se ao cronista de factos passados toda a frieza, toda a isenção de ânimo, toda a objectividade de juízo: não pode ser o apóstolo da figura retratada, nem o seu detractor tão-pouco. Em qualquer caso, a realidade histórica é esta: Oliveira Salazar governou Portugal durante quase quarenta anos. Esses quarenta anos não foram um espaço em branco na história da Nação: mal ou bem, alguém os preencheu.
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