A técnica pode ser uma coisa má, uma cilada e uma devastação, uma falsa natureza que pretende substituir a verdadeira, desejos fabricados substituindo alegrias reais, artifícios, miragens e parecenças que manipulam os corpos e destroem as almas. Tudo isto foi-nos muitas vezes repetido. A multiplicação das máquinas, a exploração das energias, a industrialização da alimentação, a transformação das espécies vivas, entre outros traços, como sinais de catástrofes irremediáveis. Dominique Bourg critica metodicamente o conjunto destes lugares comuns. Sublinha-lhes os excessos e os impasses, tanto em Heidegger como em Jacques Ellul, por exemplo, de uma maneira bastante dura. O seu trabalho é preciso, claro, marcado pelo bom senso. Felizmente que a técnica existe! Esta é a sua primeira constatação. O ponto central da sua argumentação é , em simultâneo, muito simples e muito forte: sem técnica não há humanidade. É no meio dos utensílios e das transformações do seu meio ambiente que o Homem se produz a si próprio. Animal tão fabricante quanto político ou falante. O interesse desta afirmação está no dar à técnica o seu lugar primordial e fundador na própria existência do homem. O Artifício é essencial e fundador: é fazendo que o homem se faz. O importante está em ver que a existência humana é inseparável deste fazer e não saberia conceber-se sem ele. No entanto esta afirmação não interdita de forma alguma a denúncia dos riscos industriais e o alertar para uma prevenção contra as catástrofes que nos atentam. Dominique Bourg conclui que o antropocentrismo é o horizonte inultrapassável das nossas análises e das nossas decisões.
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