Rui Tavares: «A Europa não é europeia quando se esquece que foi mulher e refugiada. A Europa não é europeia quando se esquece da sua história.»
CRÍTICAS«Através do traço de Michael Kountouris, já muitas vezes premiado ao longo da sua carreira com mais de trinta anos, esta é uma exposição que marca a atualidade e é um convite aberto à reflexão sobre a União Europeia dos nossos dias. Uma reflexão que não esquece os valores que estão na base da sua criação, mas que expõe também, em muitos dos trabalhos apresentados, os grandes desafios que hoje em dia se apresentam à Europa.»Alberto Mesquita«No mito grego de Europa, a primeira coisa a saber é que Europa não é europeia. Europa é o nome de uma princesa fenícia que foi vista por Zeus numa praia que seria no atual Líbano e, portanto, na Ásia. O deus dos deuses enamorou-se dela e decidiu seduzi-la, raptá-la ou violá-la (é impossível distinguir o sentido nas fontes gregas antigas) transformando-se em touro e levando-a pelo mar até à ilha de Creta.Só aí Europa pisa o continente que tem o seu nome, e se torna europeia. Se formos às origens, portanto, Europa não é o nome de uma fortaleza que recusa a entrada de refugiados. Pelo contrário, Europa é o nome de uma mulher, ela própria refugiada e talvez vítima de violência sexual. […]A Europa de Kountouris pode ser uma princesa sim, mas uma princesa egoísta e distante e não aquela que se banhava simples na praia quando Zeus a raptou. A Europa de Kountouris pode ser o vizinho que fecha os olhos à ascensão dos nazismos mas que se incomoda com o menino, o refugiado morto cujo crime foi ter vindo das praias orientais para as ocidentais — como a própria Europa foi forçada a fazer.Rui Tavares
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