Procuro uma dramaturgia completamente portuguesa: onde as personagens não têm ecos de outras línguas transformadas na língua de Camões, onde os universos em que se movem não são importados dos filmes americanos, universos que não reproduzem uma realidade lusitana. Ou que vivam num espaço qualquer que não o nosso na imaginação geográfica do autor e do leitor. (Pois sinto que com todos estes aspetos teremos sempre fotocópias e não originais.) Quero escrever sobre famílias portuguesas, sobre o naperão em cima da televisão, as salas pequenas com cortinas fechadas, com a verborreia incontrolável do seio familiar, a guerrilha constante entre pessoas que partilham o mesmo espaço. Do mesmo laço de sangue. Quero que essas personagens portuguesas partilhem o seu espaço connosco, sem o saberem, já que vivem aqui ao lado. Quero ver nelas a disfuncionalidade, a falta de comunicação, o egoísmo, o amor-duro entre os laços de sangue, e a capacidade de autodestruição (individual e familiar) dos protagonistas desses mesmo laços.
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