A questão socrática, aquela que, perante o defensor da violência, faz surgir a filosofia em contra-campo, não se deverá, daqui para o futuro, responder em termos ainda mais irónicos? Mantermo-nos o mais próximo possível desta palavra inventada no campo magnético do mar Egeu - filosofia - é de facto uma tarefa que orienta para o mais longínquo. «É no tempo dos grandes perigos que aparecem os filósofos» já o dizia Nietzsche, reatando com Heraclito e isto é tão verdadeiro como a tomada de Mileto foi o primeiro desafio que a História dirigiu ao pensamento e tanto se impõe, face ao perigo de hoje, pensar os contornos de uma nova revolução copérnica, para amanhã. Até agora os filósofos apenas examinaram as narrativas à luz do conceito e da su razão. É tempo de examinar esta «razão» sob o ponto de vista do poder narrativo que lhe traça o litoral onde ela acosta. Compete à tentativa filosófica, e só a ela sem dúvida, operar esta travessia, no múltiplo das línguas e linguagens, que tanto esperamos e sem a qual mais nenhuma torre restará de pé. Assim deverá ser o seu discurso - misturando-se inclusive no seu arquivo - sob pena do seu esquecimento definitivo. A filosofia daqui para o futuro? A aprendizagem dos movimentos que tornam possíveis todas as transformações - segura ou perigosas, e necessárias.
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