A edição portuguesa de uma colectânea de estudos de Fok Kai Cheong reveste-se de uma importânica singular. Trata-se da revelação em Portugal de um nome que é absolutamente central no quadro da história de Macau e das relasções sino-portuguesas. A relevância dos trabalhos de Fok deriva, antes de mais, da utilização sistemática das fontes chinesas. Os estudos mostram, em primeiro lugar, como a presença portuguesa no litoral chinês é motivo de vigilância e preocupação desde o início. Na província de Guangdong, primeiro, em Pequim, depois, os recém-chegados serão judiciosamente avaliados e «classificados». Impressões nem sempre lisonjeiras, violentas por vezes. Todavia, constituindo os olhares sobre o outro uma das mais fecundas vias de investigação no quadro da história cultural da expansão portuguesa, não deixa de ser interessante inverter o espelho e contemplar as imagens chinesas dos portugueses. O presente volume não deixará, por isso, de causar um certa estranheza em Portugal. Estranheza por se ficar a saber que os Portugueses eram também eles piratas e que nos circuitos chineses de decisão política havia quem visse Macau como uma «úlcera do Sul», um corpo estranho a eliminar antes que rebentasse. Estranheza por se constatar que os Portugueses não se bateram nesses anos pela soberania (não o fariam antes de finais do século XVIII), procurando apenas afirmar a autonomia política e admnistrativa de Macau e, consequentemente, evitar a assimilação que o confucionismo preconizava para os «bárbaros». Fok demonstra que não se deve falar de ofertas, mas sim de compromissos. É esse o significado da «fórmula Macau», expressão que o autor utiliza abundantemente ao longa das páginas deste livro.
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