Um obscuro poeta, judeu e comunista, é detido em Krasnograd, na União Soviética, e acusado de se haver transformado num inimigo do povo.O magistrado que o interroga, desejoso de obter a confissão que o poder não cessa de lhe exigir, propõe-lhe que redija as suas memórias e delas faça o livro da sua vida.Paltiel Gershonovitch Kossover escreverá pois, na sua cela, ao longo dos intermináveis cadernos que para o efeito as autoridades lhe facultam, um testamento destinado ao filho que jamais voltará a ver. É um texto desprovido de esperança, uma pungente descrição das ilusões do século, que se supõe será destruído após a execução do seu autor.Contudo, por uma dessas ironias que a ficção, tal como a vida, sempre se podem reservar, essa negra crónica dos anos de ferro acabará por chegar às mãos do verdadeiro destinatário, piedosamente conservada e transmitida por aquele que foi o último interlocutor do poeta e o seu secreto e monstruoso amigo, o estenógrafo da cadeia, Viktor Zupanev.Assim, o que nestas páginas se desenrola perante o olhar do leitor é a história de um sonho tresloucado, que as circunstâncias votavam ao esquecimento, e que apenas o riso, talvez, transfigurará.
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