Tive contato com as charges de Cau Gomez pela primeira vez nas páginas do hoje extinto Jornal do Brasil, um veículo bem-comportado, que procurava sempre ou quase sempre amenizar a realidade brutal da «suciedade» carioca, publicando desenhos mais ou menos bem-comportados, pois a proposta do jornal sempre foi dar uma imagem «cordial» da «suciedade» carioca, favelada e desdentada… e, de repente, aconteceu Cau, com um desenho expressionista que, tal como fizemos nos maus bons tempos da censura ditatorial, se batia de frente com a «cordialidade» impositiva proposta pelo veículo nos seus desenhos de humor ácido.
As personalidades políticas e seus comparsas apareciam de forma simiesca, realçando o ridículo e a brutalidade dos retratados. A primeira coisa que me ocorreu foi que não duraria muito no jornal. Dito e feito, pouco tempo depois desapareceu e nunca mais foi publicado. A gente que viveu e trabalhou muito mal nos tempos da ditadura já sabia que o destino de quem enfrentasse as feras da mídia comercial, mais tarde ou mais cedo, cairia em desgraça. […] Cau não «vendeu» seu desenho e continuou apostando na sua liberdade para expressar as suas opiniões, que é a única coisa que fica de um chargista, e se firmou como um dos desenhistas mais talentosos e bem posicionados da imprensa brasileira - hoje meio desfalcada mas, no fim das contas, o espelho do que nos toca viver no momento.
[Luis Trimano]
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