«Os poemas deste livro de Amadeu Baptista vivem, portanto, de subtis dicotomias, são agenciados por subtis dicotomias: o contar e o cantar, o evanescente e o concreto, a vida e a morte, a lembrança e o esquecimento. Na casa que todos os poemas são, há um discurso que conta, nem sempre canta, mas nem por isso recua em face da possibilidade de assaltar o leitor com enigmática carga expressiva, como se, num volte-face de tom, o poema que conta quisesse abarcar a sugestão. Alguns exemplos: Andros, Antípaxos, Argos, entre muitos outros que se organizam em função de uma imagem-símbolo, ou de uma frase-imagem que promove o desenvolvimento dos versos subsequentes, numa apertada malha de sintagmas, de orações que emolduram o quadro projectado: «O coração está aceso durante a vigília/ para que uns durmam e outros/ perscrutem a escuridão e defendam/ o poço. Bebemos água nocturna a mais fresca, a mais mansa, a que a lua escolheu/ para se aproximar dos homens e brilhar/ nas suas gargantas».»Do prefácio António Carlos Cortez, Lisboa, Julho, 2021
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